As Amazonas
Resolvi escrever um mini-conto para acompanhar o desenho, pois faz tempo que não faço isso e, na verdade, me divirto muito fazendo. Não é bem um conto, mas serve para RPGistas à procura de idéias para um cenário de campanha. Lá vai:
"Trabalhei fora daqui, na penúltima campanha imperial no sistema Tau Ceti, em um satélite natural chamado Niobium. Era um lugar com uma implacável superfície rochosa e cinzenta que contrastava com a cor alaranjada de Aurantiacus, o planeta que orbitava; uma coisa gigantesca, quase surreal, com uma superfície coberta pela lava de seus inúmeros vulcões ativos. Eu via ele muito pouco, mas até que o achava bonito. As outras luas dele também eram pedaços de rocha interessantes de se ver!
Mas Niobium, ao contrário das outras luas e do próprio planeta, tinha uma atmosfera razoavelmente suportável e até uma reserva de água razoável em forma de cristais de gelo, o que facilitava as operações. Nosso principal e quase único interesse lá era a extração de Nióbio, um metal super resistente ao calor, ideal e indispensável para fabricação de turbinas e propulsores. Lá nossas máquinas trabalhavam sem parar, cavando fundo na crosta rochosa, e pelos inúmeros túneis nossas naves entravam zumbindo, levianas, para depois saírem flutuando lentamente, com os compartimentos de carga cheios de centenas de toneladas de minério. A cada partida as paredes vibravam ao ponto de parecer que o lugar ia ruir, às vezes até avariando algumas estruturas, mas nem assim parávamos.
A pressa era maior porque nossas plantas de fundição e processamento na superfície ainda estavam em construção, então tínhamos que carregar e fazer tudo em órbita, onde uma frota industrial provisória estava estacionada. Havia realmente muita urgência em suprir a indústria bélica, e as minas quase não conseguiam extrair o suficiente... A legião precisava de mais foguetes e não podíamos perder tempo!
Foi então que, para acabar com tudo, surgiram as Amazonas; os grupos de sabotagem do inimigo. Batizamos eles assim porque eram pequenos esquadrões compostos curiosamente por uma grande maioria de mulheres. Não donzelas, mulheres guerreiras! Surgiam do nada, pilotando naves pequenas e extremamente manobráveis que nossos radares e batedores sempre captavam tarde demais. Muitas vezes interceptavam nossos cargueiros ainda nos túneis das minas, implodindo os propulsores e tanques de combustível, jogando-os de volta nas profundezas com tudo e todos dentro. As marmotas da minha equipe cavavam a quilômetros da saída e mesmo assim sentíamos a vibração dos impactos... Depois elas localizaram nossa posição e abriram túneis secundários, com os quais driblavam a guarda e os portões das minas e atacavam direto no coração das estações, matando e inutilizando tudo. Foi essa estratégia de guerrilha e bravura quase suicida que rendeu àquelas batalhas o "honroso" título de amazonomaquias. Funcionava bem. Era uma humilhação ultrajante para o império, e nossa resposta vinha rápida na forma de massivos contra-ataques, dos quais elas apenas se esquivavam para depois de um tempo ressurgirem em outros lugares em novos atentados surpresa. Havia pausas, mas a merda continuava. Foram treze anos assim, com nossos contra-ataques surtindo pouco efeito, e fomos perdendo as estações, uma a uma, até o comando central finalmente decidir pela implosão dos túneis e a total interrupção das atividades.
"Trabalhei fora daqui, na penúltima campanha imperial no sistema Tau Ceti, em um satélite natural chamado Niobium. Era um lugar com uma implacável superfície rochosa e cinzenta que contrastava com a cor alaranjada de Aurantiacus, o planeta que orbitava; uma coisa gigantesca, quase surreal, com uma superfície coberta pela lava de seus inúmeros vulcões ativos. Eu via ele muito pouco, mas até que o achava bonito. As outras luas dele também eram pedaços de rocha interessantes de se ver!
Mas Niobium, ao contrário das outras luas e do próprio planeta, tinha uma atmosfera razoavelmente suportável e até uma reserva de água razoável em forma de cristais de gelo, o que facilitava as operações. Nosso principal e quase único interesse lá era a extração de Nióbio, um metal super resistente ao calor, ideal e indispensável para fabricação de turbinas e propulsores. Lá nossas máquinas trabalhavam sem parar, cavando fundo na crosta rochosa, e pelos inúmeros túneis nossas naves entravam zumbindo, levianas, para depois saírem flutuando lentamente, com os compartimentos de carga cheios de centenas de toneladas de minério. A cada partida as paredes vibravam ao ponto de parecer que o lugar ia ruir, às vezes até avariando algumas estruturas, mas nem assim parávamos.
A pressa era maior porque nossas plantas de fundição e processamento na superfície ainda estavam em construção, então tínhamos que carregar e fazer tudo em órbita, onde uma frota industrial provisória estava estacionada. Havia realmente muita urgência em suprir a indústria bélica, e as minas quase não conseguiam extrair o suficiente... A legião precisava de mais foguetes e não podíamos perder tempo!
Foi então que, para acabar com tudo, surgiram as Amazonas; os grupos de sabotagem do inimigo. Batizamos eles assim porque eram pequenos esquadrões compostos curiosamente por uma grande maioria de mulheres. Não donzelas, mulheres guerreiras! Surgiam do nada, pilotando naves pequenas e extremamente manobráveis que nossos radares e batedores sempre captavam tarde demais. Muitas vezes interceptavam nossos cargueiros ainda nos túneis das minas, implodindo os propulsores e tanques de combustível, jogando-os de volta nas profundezas com tudo e todos dentro. As marmotas da minha equipe cavavam a quilômetros da saída e mesmo assim sentíamos a vibração dos impactos... Depois elas localizaram nossa posição e abriram túneis secundários, com os quais driblavam a guarda e os portões das minas e atacavam direto no coração das estações, matando e inutilizando tudo. Foi essa estratégia de guerrilha e bravura quase suicida que rendeu àquelas batalhas o "honroso" título de amazonomaquias. Funcionava bem. Era uma humilhação ultrajante para o império, e nossa resposta vinha rápida na forma de massivos contra-ataques, dos quais elas apenas se esquivavam para depois de um tempo ressurgirem em outros lugares em novos atentados surpresa. Havia pausas, mas a merda continuava. Foram treze anos assim, com nossos contra-ataques surtindo pouco efeito, e fomos perdendo as estações, uma a uma, até o comando central finalmente decidir pela implosão dos túneis e a total interrupção das atividades.
Foi por pouco! Nos últimos anos eu mal conseguia dormir, perdido em pesadelos nos quais despencava da atmosfera dentro desses cargueiros condenados, ou me via morrer sufocado, sem resgate, como muitos companheiros que ficaram presos em túneis selados pelos ataques do inimigo. Presenciei várias invasões e massacres e a incerteza do amanhã, de quando seria minha vez de morrer, era a parte mais aterradora, mas foi o que me fez mudar. No fim cheguei a aceitar que nunca sairia vivo do fundo daquele formigueiro macabro, e esse parece ter sido o segredo que me trouxe um pouco de tranquilidade. No fim, acabei tendo mais sorte do que esperava.
Quanto à questão da guerra, aquela era praticamente nossa única mina na região e para manter a expansão precisávamos renovar os esquadrões de caça, e ao interromper o fornecimento o inimigo deu um tiro certeiro. Em 3 anos nossa frota foi reduzida de tal forma que fomos obrigados a recuar e abandonar todo o quadrante. Fomos sabotados. A vitória era deles, a derrota tinha gosto amargo, mas eu estava vivo, e voltando para casa...
Fui tomado por uma felicidade intensa. E lá estava eu na sessão de avaliação psicológica, o último passo para eu poder requisitar minha dispensa e deixar aquele sistema solar imundo! A psicoterapeuta nem sequer precisou conversar muito comigo; era Elizabeth, uma mulher alta, de cabelos escuros caindo pelos ombros, grandes olhos amendoados, lábios carnudos, um corpo de formas bem definidas e o zipper do horroroso macacão da frota militar meio aberto formando um decote generoso... Depois de 5 anos de trabalho contínuo nas minas, ela era simplesmente a primeira mulher que eu via que não tentaria me matar, e minha reação à ela foi óbvia e rendeu um diagnóstico rápido da minha patologia: ginofobia, fobia de mulheres... E então eu tinha um trauma e era provavelmente o único minerador da galáxia que não suportaria assistir um striptease inteiro. Demorei para superar! Maldita guerra, maldita Niobium, maldita mina, malditas Amazonas! Caso ainda não tenha entendido, a legião te dá dinheiro, mas só te tira de um planeta para jogar sua vida no espaço. Não aliste-se!"
"Joe Marmota" - Joe Mendez McCarty
Operador de escavadeira nas minas de Niobium, no quadrante Tau Ceti - CB-13
Na wikipédia:
"Amazonomaquia (em grego antigo, literalmente, "batalha das amazonas") era o nome dado aos retratos artísticos feitos sobre as batalhas lendárias entre os antigos gregos e as Amazonas. Estas criaturas estrangeiras sucumbiam, em diversos mitos, à personagens como Héracles e Teseu, simbolizando o triunfo das civilizações helênicas sobre os bárbaros."
Fica a questão: o quê é um bárbaro? Ou, para quem serve essa idéia?
Hahahahah
gostei!
ResponderExcluirPode crer! Muito foda!
ResponderExcluirPoh...mas que vontade de construir pontes e foguetes mais leves para se esforçar tanto por nióbio! Tomara que a demanda cresça nesse nível no futuro, para que o Brasil possa cobrar um preço mais alto pelo nióbio..hauahuahauahuahau. (se bem que todas as mineradoras são privatizadas e o dinheiro não cairia nas mãos do povo de qualquer forma).
Nossa divaguei demais, o que eu queria dizer mesmo é que adorei a ilustração e o texto me prendeu muito! Muito legal! Continue!
Eu tentava desentupir os coletores de gelo cuidando para me desviar das orbitas naturais das massas de cristais ferrosos.
ResponderExcluirNão era uma tarefa realmente indispensável. Tínhamos drones que faziam esse esse trabalho mas de tempo em tempo o bloco de gelo congelava junto com o conteiner cilindrico e a manutenção se complicava, embora não desse trabalho de fato. Nada que um par de maçaricos laser não pudesse resolver.
Enquanto a Minifab estava em processando o material era necessário se ocupar e evitar que os ventos espaciais passassem demais pelo cortex em baixos ciclos e trabalahos manuais compensavam as horas entediantes na esteira. Odio pensar que sou um hamster.
A cada 161 horas o movimento de translação do asteriode permitia que a floresta de perfuratrizes fosse banhada por um leve tom alaranjado vindo do planeta. Lindo e ameaçador. Sempre me lembrava aquela simulação de treinamento de operações de oceanos profundos. Quando os peixe luminescentes, atraídos pela vibração da ancora, se aproximavam da escotilha e traziam consigo uma dúzia de predadores exponencialmente maiores. Toda aquela massa vulcanica passando pelo seu visor de cristal como se fosse um predador apenas observando e planejando suas ações. Era sempre suspreendente e angustiante perceber que nossa base de operação estava de cabeça para baixo, praticamente pendurada na pouca gravidade existente no asteróide. O planeta sempre me fazia sentir humano. E protocolo cultiva este tipo de aglomerado de lógica.
Meu visor estava se readaptando com a luz do espaço quando o alarme de despressurização começou a apitar.
"O que eu fiz de errado? Verificando integridade do traje..."
Então me dei conta que estava sendo atacado e tinha apenas 15 segundos para reagir.
Amazonamaquia
o texto acima é meu ¬¬
ResponderExcluiro excesso de jargão é proposital.
tentei criar uma atmosfera que descrevesse a forma wikipediana do personagem pensar e se expressar. afinal, a maior fonte de informação do sujeito seria as enciclopédias.
"...em baixos ciclos e trabalhos manuais ajudavam a compensar as horas entediantes que eramos obrigados a fica na esteira."
é um momento de preocupação
eu imaginei em como um astronauta do futuro construiria uma justificativa pra não entrar em depressão espacial
eheheh
e como a teecnologia é mais avançada leva-se a pensar qual efeito os ventos espaciais teriam em uma mente desocupada
mensurada pela frequencia de ciclos
pq obviamente todo astronauta será um cyborg :P
é isso
ele tá com medo de danificar o equipamento que ele chama de corpo
me influenciei em Dune, Perry Rodhan, W Gibson e Lovecraft :D
don't worry. just have fun!